1. Gênese e vicissitude do textoA respeito do texto possuímos um testemunho de primeira mão, deixado pelo padre João Roatta em 1982:
1Nosso fundador escreveu
Abundantes divitiae, livro-síntese das suas inspirações fundamentais, nas seguintes circunstâncias.
Aproximava-se o quadragésimo ano da nossa Congregação (1914-1954), e alguns de nós (Pe. [Valentino] Gambi, Pe. [Renato] Perino, Pe. [Giovanni] Roatta) pensou que era bom aproveitar da ocorrência para alguns aprofundamentos acerca da nossa vocação Paulina e acerca do nosso fundador: seja para uma tomada de consciência interna melhor, seja para falar deles ao público. Um dia eu mesmo [Pe. Roatta] apresentei essa idéia ao fundador, o qual me respondeu: 'Fazei o que o Espírito Santo vos inspira. Realmente, não escrevemos nem publicamos nada ainda; mas já me chegaram pedidos (de Pe. Guido Pettinati, na Argentina e de outros), visando a manifestar algo do que Deus fez entre nós; e creio mesmo que tenha chegado o momento para fazê-lo'.
Procuramos outros colaboradores e demos início ao trabalho, que se prolongou por diversos meses com muito empenho, até início de 1954.
A certa altura Pe. Alberione chamou-me e disse-me estas poucas palavras: 'Desejaria dar a conhecer isto, que me parece deveras importante: que depois de minha morte não se fale mais de mim, e sim somente de são Paulo; é ele o fundador, o modelo, o pai, o inspirador para nós. É necessário que isso transpareça do trabalho ao qual vos lançastes'. Assegurei-lhe que assim seria feito e continuamos o trabalho. Pouco tempo depois chamou-me novamente e tive uma surpresa: mostrou-me e depois entregoume uma série de originais em formato um tanto grande, escritos compactamente com sua caligrafia miúda; e disse-me: 'Julgai se podem servir'. Eram os manuscritos do que foi depois o livro
Abundantes divitiae. Lemolos com notável interesse; mas com os trabalhos já abundantemente avançados, pouco pudemos aproveitar nos vários artigos; e tampouco nos foi possível apreender imediatamente o valor essencial das suas memórias.
Esses manuscritos permaneceram comigo até o término do nosso trabalho, quando saiu impresso o volumoso
Lanço-me para frente (verão de 1954). Então ordenamos todo o material usado até aquele dia; e Pe. Majorino Povero, que colaborara na obra para o trabalho tipográfico, pediume que lhos desse para os conservar diligentemente, os supracitados manuscritos. Passei-lhos com satisfação. Vi reemergirem essas memórias muito mais tarde [1969], por ocasião do Capítulo geral especial, quando foram publicadas, a primeira vez, com o título
Eu estou convosco, para uso interno sobretudo do Capítulo.
Relendo a seguir muitas vezes as páginas simples e despojadas de todo artifício de
Abundantes divitiae, deime sempre mais conta da importância excepcional daquelas memórias para a nossa história, para o nosso carisma e para o caminho espiritual no qual Deus fez surgir e crescer nossa Família religiosa.
Casa Divino Mestre, Ariccia, 10 de janeiro de 1980.
G. Roatta.
O texto não é de leitura fácil, primeiramente porque constituise de anotações em diversos estratos. O primeiro forma-o um
manuscrito (ms) constante de diversos fólios esparsos sem numeração fixa; o segundo consta de um
datilografado (ds) que em diversos lugares afasta-se dos originais, mas com toda segurança tem a mesma paternidade alberoniana, e representa a segunda redação corrigida.
O
ms compõe-se de 39 fólios: 18 em formato 18x24 cm; outros 18 em formato 11,3x17; 2 de 15x17,8 e 1 de 9,3x14,5 cm. Alguns desses fólios (4) são o resultado da justaposição de 2 fólios cortados e colados. Ademais desses 39 fólios, 29 são escritos numa só face; 7 são escritos em ambas as faces; 1 deles traz no verso os títulos das diversas entradas econômicas de novembro de 1952; outros dois têm trechos apagados (talvez de uma primeira redação). Assim, as faces escritas são 46 (mais duas apagadas). Mais: dos 39 fólios, 31 ostentam no alto numeração dupla, os outros 8 até três números distintos, escritos por mãos diversas, que tentaram pôr nas páginas uma ordem lógica ou histórica progressiva.
A primeira utilização do
ms tinha por finalidade, como foi dito, a comemoração do 40º ano de fundação da Pia Sociedade de São Paulo. O pensamento do Pe. Alberione encontra-se expresso a esse respeito também em escritos paralelos contemporâneos, como o boletim interno
San Paolo.2 O ms foi, portanto, utilizado parcialmente para a redação do volume
Lanço-me para frente (1954), e em 1969 saiu impresso retocado no estilo, para uso dos participantes do Capítulo geral especial da Pia Sociedade de São Paulo e das Filhas de São Paulo, com o título
Eu estou convosco.3Em 1971 o texto viu a luz com o novo título de
Abundantes divitiae gratiae suae: História carismática da Família Paulina(sigla
AD), sob a direção de Pe. José Barbero, o qual publicou a primeira edição cuidadosamente revisada, com notas explicativas e com características históricas. Na segunda edição da obra (Roma, 1975, pp. 6-7), o mesmo organizador acrescentou notícias ulteriores a respeito da formação de
AD, na qual conferia as duas redações do original, isto é, a manuscrita e a datilografada, buscando a concordância ou integrando os dois textos.
Nova edição
crítica, acrescida de numerosos textos em apêndice, foi publicada em 1985 por Ezequiel Pasotti e Luiz Giovannini. Esta edição, inserida na nova série de
Obras completas, foi realizada sobre os
manuscritos e dotada de rigoroso aparato crítico.
Devendo executar nova edição, julgouse oportuno não adotar o texto conforme ao manuscrito e sim o sucessivo do
datilografado, revisado e corrigido pelo Pe. Alberione, considerado, portanto, mais correspondente ao seu pensamento. Ao mesmo tempo foi aliviado o aparato crítico, excluindo do texto os sinais gráficos a não ser os expoentes numerais de notas, e conservando, ao invés, da edição de 1985, a riqueza de notas explicativas, bem como os textos acrescentados em apêndice, com a exclusão somente das minutas preparatórias de alguns deles.