APÊNDICES
Advertência
Acrescentamos aqui, numa série de apêndices, outros textos que nos pareceram particularmente importantes para conhecer e compreender melhor as abundantes riquezas de graças que Deus prodigalizou à Família Paulina.
Subdividimos os textos, segundo o argumento prevalecente, nos seguintes grupos: Sociedade de São Paulo, Filhas de São Paulo, Pias Discípulas do Divino Mestre, Irmãs Pastorinhas, Irmãs Apostolinas, Cooperadores. Haverá depois uma Declaração e uma Despedida que compreende além do testamento espiritual dois fragmentos de sabor testamentário.
A numeração marginal progressiva segue à da edição crítica de 1985. As frações faltantes (nn. 205-214, 225-239, 251-278, 294-303) referem-se a textos repetidos (com algumas variantes), que aqui não julgamos necessário reproduzir.
APÊNDICE I
SOBRE A PIA SOCIEDADE DE SÃO PAULO
1. Testemunho sobre os primeiros paulinos
Deste texto importante, datado no ms Roma, 9 de outubro de 1954, sobreviveram três edições: uma manuscrita, uma datilografada e uma impressa. Publicamos somente a terceira, considerada definitiva.
205 - 214 [Redações, manuscrita e datilografada, omitidas]
205
Devo dizer que, durante quatro anos, pe. Tito e pe. Costa,1 aos quais se juntaram logo o pe. Ambrósio (16-10-1915)2 e o pe. Marcelino (16-10-1916),3 foram os mais generosos e inteligentes na vida paulina; verdadeiramente o Espírito Santo trabalhava muito naquelas almas.
Aqueles foram os anos em que somente a fé e o amor a Deus sustentaram estes primeiros filhos de são Paulo. Não encontrei na minha vida senão alguma excepcional e rara pessoa de semelhante piedade, virtude e dedicação.
215
Dificuldades externas?… O Senhor não permitiu que se encontrassem muitas… não se era nem dignos nem capazes de suportá-las. Contudo a guerra mundial de 1914-18 foi para o instituto uma prova tão difícil, que a última guerra (1939-45) pode-se-lhe comparar somente na proporção de um para cinco.
As verdadeiras dificuldades são sempre as internas. Tratava-se de formar claramente a idéia e a orientação para o sacerdote-escritor, de técnica elevada ao nível de apostolado, de difusão que penetrasse todas as almas e o pensamento moderno. Entre os homens acontecem sempre erros; o Senhor pela sua misericórdia e santidade sempre humilha os soberbos.
216
Pelas suas ocupações era obrigado a deixar os jovens, durante boa parte do dia, nas mãos de outros educadores, que embora bons, não aderiram ao espírito paulino e educavam como se se tratasse de jovens de educandário, destinados a aprender a profissão de tipógrafo. Muitas vezes não se podia dizer o que seria necessário, tinha que se calar. Mas estes quatro primeiros eram fidelíssimos, prudentes, fervorosíssimos nas diretrizes recebidas. Mais tarde, depois da separação entre os jovens operários do pe. Rosa4 e estes quatro Paulinos, aos quais logo se juntaram outros, a Família começou a proceder otimamente. Assim acontecia que eu estava perfeitamente seguro e tranqüilo também quando me ausentava: tão grande era neles o amor à Família nascente.
217
No dia 1º de agosto de 1916 ingressava também o pequeno Mateus Borgogno5 que, embora mais novo na idade e nos estudos do que os quatro precedentes, soube tornar-se logo utilíssimo à família paulina com hábil e inteligente dedicação ao apostolado, na composição manual. Para cada um de nós, novatos, ver o rosto daqueles primeiros era o mesmo que estar na presença do Sr. Teólogo: nós nos sentía-mos cheios de entusiasmo: assim afirma hoje um dos jovens que ingressaram entre 1918-1919.
218
Muitos outros, nos anos seguintes, encontraram dificuldades, fizeram sacrifícios e mantiveram fidelidade exemplar: nada porém se compara com o que se constatou naqueles primeiros tempos que deram claramente a entender a aprovação divina à qual bem cedo se seguiria a da Igreja; procedia-se, por isso, com fé sempre mais segura de não estar enganado, mas de andar no caminho de Deus.
219
Lembro-me sempre daqueles queridos Irmãos que suportaram os primeiros e maiores pesos com compreensão bem superior à sua idade. Sua fé simples e firme, que os deixava repousar nas mãos de Deus, seu amor a Deus, às almas, o seu desejo profundo de santidade abriram caminho a muitas vocações.
220
2. A carta, de Susa, aos primeiros paulinos
A 22 de agosto de 1924 Pe. Alberione escreveu, de Susa, uma carta importante que nos dá a conhecer as reflexões que ele mesmo fazia e que apresentava aos seus filhos para animá-los e sempre melhor corresponder à sua vocação paulina. Pe. Alberione considera e transmite toda a grandeza desta mesma vocação e, ao mesmo tempo, lhe une imediatamente a idéia, que volta a aparecer também em AD, de prestação de contas que ele e os Paulinos devem a Deus.
Aos irmãos da Pia Sociedade de São Paulo
Ontem mesmo escrevi, mas é conveniente que também hoje vos diga alguma coisa que o Senhor me fez conhecer no dia de são Bernardo.
Não sei se vos sentireis mais alegres ou mais assustados, talvez mais assustados do que alegres num primeiro momento, porque, como fez o Teólogo, assim também vós pensareis numa prestação de contas mais detalhada que teremos de apresentar a Deus.
221
Eu não sei se alguma vez vos acode ao pensamento fazer comparação entre a nossa Casa tão pequena e a grande árvore da Família Salesiana, ou o robusto carvalho da Família de santo Inácio; ou as duas Ordens irmãs que são os Dominicanos e os Filhos de são Francisco, e mais ainda a maravilhosa multiplicação dos Filhos de são Bento.
Ora, isto é bem pouco em comparação ao que quer, espera, pede a nós o Senhor.
Estou a ler a vida daquele missionário aventureiro que foi são Francisco Xavier, e posso dizer-vos que mais do que a metade de vós está destinada a fazer o bem que ele fez; outros a fazer trêz vezes mais, quando não mais ainda. Quantas maravilhas tem guardadas Jesus em seu Coração!
222
Maravilhas de amor e de graças, de vocações. O Senhor nos quer conceder coisas que não acredito possais sentir desde já, porque também Jesus dizia aos apóstolos que tinha coisas que não diria até a vinda do Espírito Santo, porque: não as podeis suportar.6 E não podereis suportar porque todos estamos ainda muito afastados daquela humildade, abnegação, caridade, pobreza, fé, que o Senhor quer.
Será que temos uma nesga disso tudo?
223
Queridos amigos, leiam esta carta durante a visita ao Santíssimo Sacramento: pensem que as graças estão aí, a prestação de contas nos espera, queiramos ou não o mundo é nosso: ai de nós se não o tomarmos. Eu estou quase apavorado e devo segurar-me com os dois braços a Jesus que diz:
Ego sum, nolite timere, omnia possum.
7Susa, 22 de agosto de 1924
O Teólogo
224
1 Sobre o Pe. Tito Armani e Pe. Desidério Costa cf. acima, AD 105-106 e notas relativas.
2 Miguel em religião Domingos, Ambrósio, n. 17.6.1902 em Canale (Cuneo); ingressou na Congregação no dia 16/10/1915; fez a primeira profissão no dia 5/10/1921; foi ordenado sacerdote no dia 18/12/1926; morreu no dia 7/3/1971 em Alba (Cuneo). O paulino Armando Giovannini dedicou-lhe uma comovida e documentada lembrança, Don Domenico, Edizioni Paoline, Alba, 1971.
3 Bartolomeu em religião Marcelino, na Congregação, Paulo, nasceu no dia 24/11/1902; entrou na Congregação no dia 16/10/1916; fez a primeira profissão no dia 5/10/1921; foi ordenado sacerdote no dia 18/10/1925; morreu em Ospedaletti (Imperial) no dia 16/4/1978. Tornou-se particularmente benemérito pela presença paulina no Japão.
4 O Pe. José Rosa (1875-1930) colaborou intimamente com o Pe. Alberione desde o mês de setembro de 1914 até o início de 1916; em 1924-25 surgiu entre os dois uma controvérsia que envolveu também a Sagrada Congregação do Concílio junto da qual existe um fascículo (nº 3211) que lhe diz respeito. Sobre toda esta questão publicou os documentos essenciais e fez uma primeira investigação histórica o paulino Giancarlo Rocca, La formazione della Pia Società S. Paolo (1914-27). Appunti e documento per una storia, in Claretianum, XXI-XXII (1981-82) 475-690.
5 Mateus Borgogno, na Congregação, Bernardo, nasceu no dia 13/4/1904 em La Morra (Cuneo); foi ordenado sacerdote no dia 18/12/1926; morreu em Albano Laziale no dia 6/7/1985.
6 “Para o momento não sois capazes de suportar o seu peso” (Jo 16,12).
7 “Sou eu, não temais, tudo posso” (cf. Jo 6,20).